O governo do Paraguai pediu que seja convocada uma reunião de emergência dos
chanceleres do Mercosul para analisar a situação da Venezuela à luz do protocolo de
compromisso democrático do bloco, afirmou nesta quinta-feira (26) o ministro das
Relações Exteriores do país, Eladio Loizaga.
O pedido foi levado ao governo uruguaio, que neste momento ocupa a presidência protempore
do bloco —e que deve ser substituído pela própria Venezuela a partir de julho
deste ano, dificultando qualquer decisão sobre o país. Não há ainda uma resposta.
"É uma decisão já levada ao governo uruguaio. Terá que ser levada agora aos demais
ministros das relações exteriores para que se defina uma data", afirmou Loizaga a
jornalistas.
"Existe um processo estabelecido no Protocolo de Ushuaia e isso garante que o Mercosul tome uma posição. O Paraguai tem sido muito claro nas posições que têm assumido e
este é um passo importante. O presidente (Horacio Cartes) nos deu instruções precisas
para fazer essa convocatória", acrescentou.
LEIA: Bandeira percorrerá Venezuela e servirá de abaixo
assinado gigante contra situação do país
O chamado Protocolo de Ushuaia inclui uma cláusula que determina a suspensão de um
país membro em caso de ruptura democrática. Apesar da deterioração da situação política
na Venezuela, a possibilidade de suspensão do país não havia sido analisada, em grande
parte em função do então alinhamento político da Argentina e do Brasil com o governo de
Nicolás Maduro.
As mudanças de governo nos dois países e o afastamento de Tabaré Vázquez, do Uruguai,
pode abrir caminho para uma suspensão da Venezuela. Consultado pela Reuters, o
Itamaraty informou não ter ainda posição sobre o pedido paraguaio.
A tensão política na Venezuela tem crescido nas últimas semanas, acelerada pela crise
social e econômica. A oposição pediu a abertura do referendo revogatório, que pode
suspender o mandato de Maduro e convocar novas eleições -previsto na constituição
venezuelana quando o presidente alcança a metade do mandato– mas o governo
venezuelano se recusa a convocar o referendo.
A Chancelaria paraguaia se pronunciou recentemente a favor de uma iniciativa regional
para prevenir ações contra os direitos humanos na Venezuela, levando em consideração
uma declaração especial adotada pelo Mercosul em sua última reunião, em dezembro
passado.
Os chanceleres de Chile, Argentina e Uruguai fizeram na semana passada um chamado ao
diálogo entre o governo venezuelano e a oposição do país para que se encontrasse uma
solução pacífica para a crise.
(Por Daniela Desantis. Reportagem adicional por Lisandra Paraguassu, Brasília)
FOLHA DE SÃO PAULO. 26/5/16