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UMA DITADURA DE FATO: ‘eleições na Venezuela são a única chave para abrir cela’

Arte: @Untal_Ro

RIO - Para Jesús Torrealba, secretário-executivo da Mesa de Unidade Democrática (MUD), principal coalizão de oposição na Venezuela, a tática do governo Maduro em fechar cerco contra as lideranças opositoras apenas as fortalece. Ele reconhece as dificuldades no combate à união chavista entre Executivo, Legislativo e Judiciário, mas acredita que o governo encara uma crise sem precedentes.

Qual o sentimento da coalizão opositora diante da sentença?

Nossa posição é de absoluto rechaço. A pena máxima para os delitos imputados por esse governo é de 14 anos. E Leopoldo foi condenado a 13 anos e nove meses por um crime em que nada foi provado, sem que conseguissem nenhuma prova concreta, e nenhuma testemunha depôs contra ele. É uma agressão a este país. A sentença só mostra que a Venezuela não tem mais uma Justiça; ela é governada pela vingança. O que é uma péssima notícia para todos os venezuelanos.

López irá recorrer?

Ele irá apelar a todas as instâncias que possa contra a decisão. Mas sabemos que, lamentavelmente, não há separação de Poderes no país, o que, aliás, torna possível sentenças como essa. Mesmo assim, é preciso fazer tudo o que for possível, inclusive recorrendo a organismos internacionais. No fundo, sabemos que a única chave que irá abrir a cela de Leopoldo e dos 78 políticos presos no país são as eleições.

Cerca de 200 pessoas protestaram contra a decisão. Não é um número muito pequeno?

Durante o julgamento, um grupo de pessoas violentas, do oficialismo, agrediu quem protestava, deixando dezenas de feridos. Na Venezuela, protestar não é mais apenas o exercício de dever democrático, mas desafiar a morte. As pessoas não estão só cansadas: entenderam que a única ferramenta crítica que têm é o voto.

Como a oposição deve agir a partir de agora?

Toda a MUD, incluindo López, que fez o pedido logo após a sentença por meio de sua mulher, quer uma resposta pacífica, com firmeza, mas com temperança. Temos a necessidade de lutar para conseguir uma vitória nas urnas, para aprovar enfim uma lei orgânica de anistia e reconciliação. É preciso pensar no contexto em que a Venezuela se encontra: em uma severa crise econômica e social, com desabastecimento grave de alimentos e remédios, uma violência maciça e impunidade crescente. O impacto político dessa crise é visível nas pesquisas, nas quais o governo perde em até 39 pontos percentuais para a oposição, a apenas 87 dias das eleições. Pelo tamanho da desvantagem, Maduro faz tudo que está a seu alcance para reverter uma derrota eleitoral, e até mesmo impedir a realização das eleições.

É uma nova tática do governo?

A condenação, assim como o tema da militarização da fronteira com a Colômbia, faz parte da mesma metodologia. Eles tentam distrair a atenção e, ao mesmo tempo, dividir e desmoralizar a oposição, agredindo o eleitorado opositor, sem sucesso. Na realidade, acaba nos fortalecendo.

Jesus Torrealba, secretário-executivo da MUD, ressalta que estratégia inclui apoio a presos políticos - JUAN BARRETO / AFP


Fontes: O Globo - Mariana Gonçalves, Agências internacionais, Untal_Ro
Missão Ushuaia, Venezuela. 12/09/2015