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OEA diz fazer insistência ‘enorme’ para observar eleições venezuelanas.

O secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro - ERIKA SANTELICES / AFP

BOGOTÁ - O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, disse estar insistindo enormemente ante o governo venezuelano para que permita uma missão de observação das eleições legislativas do próximo dia 6 de dezembro.

Recentemente, em visita à ONU, o presidente Nicolás Maduro disse que a Venezuela não será observada por “ninguém”. Antes da declaração, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) havia sido convidada para monitorar a votação, mas não está claro se isso acontecerá. O Centro Carter, única organização independente que observava eleições na Venezuela, acaba ade deixar o país.

— O nível de desconfiança entre o governo e a oposição tornam necessário que haja um intermediário reconhecido para validar o processo eleitoral. O nível de insistência da OEA é enorme, descomunal, para que o governo autorize a observação, o que pode garantir de maneira fidedigna o resultado e evitar qualquer conflito posterior — disse Almagro em entrevista à revista “Semana”, da Colômbia.

O secretário-geral disse que o objetivo da OEA é evitar que a próxima eleição “tenha as características pós-eleitorais que tiveram as duas últimas, nas quais muito venezuelanos de ambas as partes morreram”.

A oposição vem insistindo que Maduro aceite a observação da OEA e diz temer que as eleições de dezembro sejam as “mais fraudulentas” da História da Venezuela.

Fonte: O Globo
Missão Ushuaia, Venezuela. 24/08/15

Escassez faz criminosos trocarem tráfico de drogas pelo de alimentos na Venezuela

"Vai comer pátria? Porque não há comida na Venezuela".
Arte: Untalro

Jaime se dedicava exclusivamente ao tráfico de drogas até que, dois anos atrás, um cliente que trabalhava em um supermercado lhe ofereceu trocar maconha por farinha de milho pré-cozida. Desde então, o traficante se dedica --também-- ao que eles chamam de "bachaqueo", atividade ilegal cada vez mais comum na Venezuela e que consiste em revender produtos básicos que nem sempre são encontrados em lojas e pelos quais milhões de venezuelanos passam horas na fila todos os dias.

"Ele me propôs a troca e eu disse que sim. Quando fui ver, minha casa estava cheia de produtos", afirmou ele à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, sob condição de anonimato.

De acordo com a Lei de Preços Justos, que estabelece a regulação de preços de produtos de primeira necessidade no país, a revenda desses bens é crime sujeito a pena de três a cinco anos de prisão.

Desde a última semana, o governo venezuelano reativou sua campanha para acabar com esse contrabando, que, segundo as autoridades, é uma das principais causas da escassez de produtos básicos, parte de uma suposta "guerra econômica contra o povo".

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou uma lei que busca fortalecer as medidas policiais, articuladas na chamada Operação de Liberação do Povo, para acabar com a revenda.

População faz fila para comprar itens de primeira necessidade

"(Os revendedores) são uma praga que estão prejudicando o povo", afirmou Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional.

O prefeito de Puerto Cabello, no centro do país, deu início a um programa de trabalho comunitário para a "reabilitação" dos revendedores presos, que, enquanto limpam as ruas da cidade, vestem um macacão laranja com "Sou um 'bachaquero' e quero mudar".
Formiga

No último ano, a palava "bachaqueo" --e o consequente verbo "bachaquear"-- se tornaram parte essencial do vocabulário e da vida dos venezuelanos.

"Na quarta-feira, não posso trabalhar", afirmou à reportagem um taxista. "Dedico ao 'bachaqueo' nesse dia", disse, em tom de piada, para referir-se à sua jornada de compras --cada pessoa pode fazer as suas em um dia da semana, dependendo do número de seu documento.

A palavra vem de "bachaco", uma formiga de traseiro avantajado típica da região da América do Sul, sobretudo da fronteira com a Colômbia. Lá, até um ano atrás, os "bachaqueros" eram pessoas que contrabandeavam produtos e gasolina para a Colômbia, país onde esses bens são dezenas de vezes mais caros.

Porém, desde que a escassez de produtos subsidiados aumentou na Venezuela, a revenda se tornou uma atividade rentável também dentro do país.

Esses revendedores já não são necessariamente contrabandistas que levam produtos de um país para outro, mas também pessoas que compram produtos em um supermercado e os revendem no mercado negro, seja a domicílio ou em mercados informais nas ruas.

Muitos venezuelanos veem os "bachaqueros" como um mal necessário, e compram deles para evitar as filas.

Outros, no entanto, seguem a linha do governo e os culpam pela origem da escassez.

Fonte: Daniel Pardo, BBC-Mundo em Caracas, Untalro
Missão Ushuaia, Venezuela. 24/08/15