"A Democracia e o fortalecimento do Estado de Direito são pilares fundamentais da integração regional".

Procurador diz que Justiça da Venezuela é governada pelo medo

O ex-procurador venezuelano Franklin Nieves, que fugiu do país, em 
entrevista à Reuters nesta quinta-feira (29) (Foto: Joe Skipper/Reuters)

Franklin Nieves fugiu do país para evitar ser pressionado em julgamento.
Ele foi o responsável por colocar opositor atrás das grades.

Um procurador da Venezuela que ajudou a colocar o líder de oposição Leopoldo López atrás das grades disse que esta semana pediu desculpas, por telefone, aos pais do político preso, depois de fugir do país para evitar ser pressionado pelo governo no julgamento de um recurso.

"Tenho vergonha. Acabei com uma família", disse Franklin Nieves à Reuters, em uma entrevista de uma hora em Miami na qual acusou o governo socialista venezuelano de pressioná-lo a utilizar provas falsas para condenar López. "Na Venezuela governo o medo, que é a forma da lei", disse.

Antonieta Mendoza, a mãe de López, disse à Reuters que perdoou Nieves por causa de sua fé católica, mas não confia nele.

Nieves disse ter iniciado o processo de declaração de asilo político nos Estados Unidos, mas que não manteve nenhum contato com autoridades norte-americanas desde a sua chegada na semana passada.

A Procuradoria-Geral da Venezuela negou esta semana que o órgão tenha pressionado seus integrantes a aceitar falsas evidências no julgamento de López.

O governo diz que López incitou violentos protestos de rua no ano passado, que deixaram 43 pessoas mortas. No entanto, os líderes da oposição afirmam que o julgamento de López é mais uma prova de que o governo do presidente Nicolas Maduro está corrompendo o sistema de justiça para sufocar a dissidência. Em 2012, o magistrado Eladio Aponte, da Suprema Corte, fugiu do país e depois acusou o governo de manipular os tribunais para fins políticos.

Fonte: Reuters
Missão Ushuaia, Venezuela. 30/10/2015

A Venezuela vai a Miami. Motivada antes pela política, emigração da Venezuela agora dispara sob o impulso da escassez e da falta de segurança no país.


Cidadãos venezuelanos em restaurante em Doral, Flórida. / L. ÁLVAREZ (AP)

Alexis Mogollón é o gerente do El Arepazo, um restaurante muito conhecido em Miami onde os venezuelanos se sentem como se estivessem em casa. Ele vive nos Estados Unidos desde os 29 anos, e afirma nunca ter visto nada igual: desde o começo de 2015, entre 15 e 18 conterrâneos seus aparecem ali para lhe pedir emprego. “É dolorido, mas eu não posso atender”, afirma. Em compensação, aos sábados Mogollón doa comida para uma paróquia que a distribui para venezuelanos em dificuldade.

A situação relatada por Mogollón simboliza um fenômeno crescente: o fluxo constante de venezuelanos que deixam o seu país rumo aos Estados Unidos, mais precisamente, a Miami, fugindo da escassez e da falta de segurança. Os chamados “balseiros do ar” chegam de avião. A maioria afirma no controle da entrada no país que está indo com a família visitar a Disney, em Orlando, localizada 400 quilômetros ao norte de Miami. Entram com visto de turismo, trazendo uma bagagem mínima para não levantar suspeitas, mas seu objetivo é ficar nos Estados Unidos.

Depois disso, muitos deles se dirigem para Doral, uma cidade do condado de Miami-Dade, refúgio de milhares de venezuelanos. Doral é uma cidade emergente, com uma taxa de desemprego de 4%, com 70.000 habitantes, sendo cerca de 30% deles originários da Venezuela, razão pela qual muitos a chamam de Doralzuela. Seu prefeito, Luigi Boria, nasceu em Caracas há 57 anos. “As pessoas estão fugindo dos confrontos, da violência, da falta de segurança e de liberdade”, afirma o prefeito, orgulhoso com a adaptação de seus conterrâneos, que se caracterizam, na maioria, por uma formação acadêmica elevada (há muitos engenheiros, médicos, jornalistas...) e seu impulso empreendedor (por trás de vários projetos empresariais e imobiliários de Miami há capital venezuelano).

Lavar pratos e carros

Em poucos meses, a maioria tenta criar a sua própria empresa, ainda que muitos deles, antes disso, “esfregam pratos e lavam carros”, afirma José Colina, um ex-militar acusado, em seu país, de ter colocado uma bomba na embaixada da Espanha em Caracas em 2003 e que dirige a associação Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex). Doral, que é impregnada pelos sotaques, sabores e sons que nos transportam imaginariamente para Caracas, está cheia de empresas fundadas por venezuelanos que se dedicam à exportação, alimentação e informática.


O Censo realizado a cada 10 anos pelo Governo norte-americano reflete claramente essa diáspora. Em 2000, ele registrava pouco mais de 90.000 venezuelanos nos Estados Unidos, número que disparou para 215.000 apenas 10 anos depois. Esses dados, hoje, já foram nitidamente superados. A associação Veppex, considerada radical pelo Governo de Nicolás Maduro, calcula que somente na Flórida existem mais de 250.000 venezuelanos e que outros cerca de 90.000 residem de forma ilegal no conjunto do país. Colina vê a existência de duas etapas no fenômeno migratório, que possui semelhanças com as diferentes ondas de migração de cubanos para Miami. “Entre 1999 e 2013, 60% dos que chegavam tinham motivação de ordem política. Nos últimos dois anos, 70% vieram por causa do desastre econômico e da falta de segurança”, afirma.

Nesse segundo caso, encaixa-se Juan Alberto Leal, 60 anos, engenheiro civil que chegou a Miami há um ano e meio e que possuía na Venezuela duas pequenas empresas do setor de construção. “Está tudo parado lá, não há encomenda para nada”, afirma Leal, que está usando a sua poupança para montar um pequeno negócio de reformas de casas.

Um outro elemento também distingue as duas etapas da emigração. “Primeiro vieram as pessoas mais endinheiradas. Agora estão chegando os que não têm nada. Desembarcam no aeroporto com uma maleta, 400 dólares no bolso, sem conhecer nada”, afirma o gerente do El Arepazo. É o caso de Carlos Mena, 64 anos, que aterrissou em Miami três meses atrás com a mulher e três filhos. Na Venezuela, era caminhoneiro e vivia bem, até que o ambiente se tornou irrespirável. “Para obter açúcar ou medicamento, era preciso passar a noite inteira em uma fila”, conta Mena, que sobrevive com o pouco dinheiro que trouxe, com a ajuda da paróquia e com o que sua mulher ganha como costureira.

Em meio a esse êxodo, a Veppex prepara, juntamente com congressistas republicanos, uma lei que possibilite a regularização da situação dos venezuelanos que chegaram entre 1999 e 2013. Quanto aos que chegaram depois, Colina tem advertido as autoridades federais dos Estados Unidos a respeito dos “boliburgueses”, pessoas que enriqueceram sob as asas do regime venezuelano e que agora buscam proteger o dinheiro em Miami. “Essas pessoas viviam antes na área financeira de Miami, mas agora investem em Doral”, garante Colina. E ele conclui: “Seu dinheiro vem da corrupção. Sãos os ratos que abandonam o navio”.

Fonte: El País
Missão Ushuaia, Venezuela. 29/10/2015.

Dias Toffoli confirma decisão do TSE de deixar missão na Venezuela




Ministro disse ter sido procurado pelo Itamaraty, mas que manterá decisão. Governo venezuelano teria vetado Nelson Jobim para monitorar eleição.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Dias Toffoli, afirmou nesta terça-feira (27) que chegou a ser procurado pelo ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), após anunciar que o tribunal não iria mais participar de uma missão para monitorar as eleições na Venezuela.

Em conversa com jornalistas, afirmou que a “decisão está tomada” e indicou que não vai mais voltar atrás.

“Os poderes são independentes, a decisão está tomada”, disse Toffoli durante cerimônia de posse da ministra Maria Thereza de Assis Moura no cargo de corregedora-geral eleitoral do TSE. Toffoli disse que o ministro agiu de forma “respeitosa” na visita.

Há uma semana, o TSE anunciou que deixará de participar de uma missão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para monitorar as próximas eleições parlamentares venezuelanas, marcadas para 6 de dezembro.

Um dos motivos foi o "suposto veto das autoridades venezuelanas" ao nome do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, indicado pelo Brasil para chefiar a missão da Unasul, bloco formado por 12 países sul-americanos. Toffoli não soube responder se o bloco já escolheu um novo chefe para a missão.

Na quarta-feira passada, após o anúncio, Mauro Vieira e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, passaram o dia em negociações com "as partes envolvidas" a fim de encontrar uma solução.

Segundo apurou o G1, o governo brasileiro ainda trabalhava com diferentes cenários, entre os quais o de integrar a comissão da Unasul com um outro participante; convencer as autoridades venezuelanas em relação a Jobim; ou até deixar definitivamente a missão.

O caso

De acordo com o TSE, após o veto ao nome de Jobim, o tribunal buscou um acordo entre a Unasul e o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela que permitisse ao bloco "observar as diferentes fases do processo eleitoral e verificar se as condições institucionais vigentes no país asseguram equidade na disputa eleitoral".

A corte, no entanto, informou que a "demora" do órgão venezuelano em responder ao acordo proposto fez com que a missão da Unasul não pudesse acompanhar a auditoria do sistema eletrônico de votação nem avaliar se haveria equidade nas eleições, "o que, a menos de dois meses das eleições, inviabiliza uma observação adequada".

"Em razão dos fatores acima referidos, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que não participará da missão da Unasul às eleições parlamentares venezuelanas", finalizou o TSE na nota divulgada nesta terça.

Renan Ramalho, G1
Missão Ushuaia, Venezuela. 28/10/2015.

Henrique Capriles: "O silêncio do Brasil dói". A voz moderada da oposição na Venezuela afirma que as eleições de dezembro não serão limpas – e reclama de o Brasil ignorar os abusos cometidos pelo chavismo

Arte: @Untal_Ro

Henrique Capriles é venezuelano e não desiste nunca. Voz moderada da oposição ao chavismo, governador do Estado de Miranda, derrotado duas vezes na disputa pela Presidência da Venezuela, Capriles acredita em uma vitória da oposição nas eleições legislativas de dezembro – apesar de o presidente, Nicolás Maduro, ter controle do Judiciário, do Tribunal Eleitoral, mandar prender opositores, ter espaço enorme na televisão e usar o Estado para fazer propaganda política descarada. Capriles sabe que as eleições não serão limpas. Acredita, no entanto, nainsatisfação da população com o que ele chama de oficialismo. “Maduro e Diosdado Cabello não representam o chavismo”, diz. Capriles reclama de uma coisa: seja com Chávez, seja com Maduro, a postura do Brasil é de apoio às ações do governo e silêncio diante dos abusos.

PERSISTENTE Henrique Capriles em seu escritório, em Caracas, em 2013. 
Para ele, a oposição não pode repetir os erros do chavismo 
(Foto: Sebastien Micke/Paris Match via Getty Images)

ÉPOCA – O senhor acredita que haverá de fato eleições em dezembro na Venezuela?
Henrique Capriles – Tudo é possível na Venezuela. O oficialismo é capaz de qualquer coisa. Mas os dias vão passando e tudo indica que vai ser difícil e custoso para o governo impedir as eleições. Porque a fachada para a tirania do oficialismo são as eleições. O governo se ancora nas eleições para dizer que há democracia. Sob esse manto, eles cometem todos os abusos e toda a corrupção de que são capazes. Então, acredito que haverá eleições.

ÉPOCA – A oposição pode vencer?
Capriles – Se o pleito fosse na semana que vem, pode ter certeza que a oposição venceria. As pesquisas mais confiáveis garantem uma diferença de mais de 20 para a oposição contra o oficialismo. E olha que as pesquisas na Venezuela não são como as do Brasil. Aqui nem sequer fazem pesquisa por distrito. Mas, mesmo assim, a oposição lidera. Isso mesmo com os abusos e a corrupção que eles cometem.


ÉPOCA – O processo eleitoral será transparente?
Capriles – De forma alguma. Não é um processo justo. Os integrantes do Tribunal Eleitoral são militantes do chavismo e do governo. Mas é preciso fazer uma ressalva: o voto existe na Venezuela, é secreto, e o pleito ocorre de modo normal. O problema não está na eleição, mas no desenvolvimento do processo. Não há igualdade de condições, os recursos do Estado, rádio e TV, são usados descaradamente pelo governo. São programas pagos com o dinheiro dos contribuintes e que servem para fazer publicidade. O oficialismo usa os bens públicos para azeitar a máquina de propaganda eleitoral. O processo é viciado. Esse é o delito cometido pelo oficialismo. A lei é clara: não se podem usar recursos públicos na campanha. Mas quem deveria arbitrar não é árbitro, é uma parte interessada. Por isso o processo eleitoral está sempre viciado.


ÉPOCA – Isso faz da Venezuela uma ditadura de fato?
Capriles – Na Venezuela, sei o que não existe: democracia. Mas não vivemos numa ditadura. Há uma diferença entre ditadura, totalitarismo e democracia. A Venezuela está nas mãos de um governo totalitário, que quer controlar as instituições do país. Temos o governo mais corrupto do mundo. Não existe uma democracia como deve ser. Mas, infelizmente, esse é o menor dos problemas do país.

ÉPOCA – Qual é o maior problema da Venezuela?
Capriles – A crise social. Isso é o que importa para os venezuelanos, e é isso que a oposição precisa discutir. A Venezuela é o país em que mais cresce a pobreza. Não é o Haiti, nem Cuba, é a Venezuela. A situação da pobreza é a mesma situação de quando Hugo Chávez chegou ao poder (em 1999). Chávez chegou ao governo com o discurso de acabar com a pobreza, e a situação hoje é a mesma de quando ele chegou lá. A pobreza que cresce é o desafio que devemos encarar. Essa crise social é a agenda do venezuelano, muito mais do que os problemas políticos que os meios de comunicação destacam. A imprensa estrangeira ignora os dramas sociais e a crise econômica que estamos vivendo, não se mete nos bairros, onde as pessoas sofrem, se interessa apenas pelos temas políticos.


ÉPOCA – Se o chavismo perder as eleições de dezembro, o que os chavistas farão? Eles vão deixar o poder?
Capriles – O chavismo era Chávez. Hoje eles estão no poder, mas o chavismo acabou, virou o que chamo de oficialismo. Eles tem o Estado, tudo o que fazem é para manter o poder. O partido do governo tem uma força política, é claro. Mas essa força política não é mais maioria na Venezuela. O chavismo, sem Chávez, não tem quem o represente. Nicolás Maduro e (Diosdado) Cabello (presidente da Assembleia Nacional da Venezuela) não representam o sentimento do chavismo. Há um vácuo entre os apoiadores do chavismo. O partido oficialista está sem liderança. O chavismo só respira porque o partido do governo tem força, mas apenas por estar no governo. Mas a oposição não pode cometer os mesmos erros do oficialismo.
"O chavismo, sem Chávez, não existe. Maduro e Cabello não representam o sentimento do chavismo"

ÉPOCA – Como assim?
Capriles – Quando o oficialismo sair do poder, a mudança não pode ser para substituir um projeto hegemônico por outro. Chega de fascismo. Quero um país plural, com muitas vozes, em que acabe a exclusão. O que vemos hoje na Venezuela não é um governo de esquerda, mas um governo fascista. Tem de haver uma mudança no caminho do país. Um ciclo se esgotou, mas parte da oposição não entende como se aglutina uma maioria, e como uma maioria deve chegar ao poder. Vivem isolados, querem uma ruptura, uma comoção, um radicalismo. Mas a única forma de vitória é mudar o poder político por vias legais e legítimas. Essa maioria eleitoral que se forma graças à insatisfação social vai ganhar, e vai se impor, mas de modo pacífico e constitucional. Caso contrário, não é mudança. E, para uma mudança duradoura na Venezuela, é totalmente necessário incluir as vozes do oficialismo.


ÉPOCA – Isso é factível? Há com quem dialogar dentro do chavismo e do governo? 
Capriles – Quando falo em fazer pontes com o oficialismo, não me refiro aos dirigentes, à cúpula. Falo do povo. Claro que não podemos negociar com aqueles que conduziram o país a uma inflação de 142% em nove meses, com quem fez a Venezuela ter a inflação mais alta do planeta, com quem levou o país aos piores índices de violência de sua história. Esses que jogaram o país na lama são aqueles que devem sair do poder. Alguns terão de responder à Justiça por seus atos de corrupção, porque são bilhões de dólares roubados. Mas o povo, quem está nas ruas, quem acreditou no projeto do chavismo, e foi enganado por ele, tem de ser incluído. O chavismo é uma realidade política no país, não podemos fingir que não existe. Não podemos cometer o pecado de reeditar todos os vícios que vimos nas mãos de outros governantes. É preciso reconhecer os que militam no oficialismo e permitir que eles possam exercer seus direitos políticos, sem revanches, sem perseguição, sem judicialização. Uma coisa é o povo chavista, que acredita no chavismo, outra coisa é Nicolás Maduro e seu governo. Maduro não representa esse povo.

ÉPOCA – O senhor tem um discurso brando comparado a outros opositores. A oposição venezuelana está unida?
Capriles – Está unida eleitoralmente. Pela primeira vez em muitos anos a oposição apresentou uma proposta eleitoral única. Mas há distintas visões dentro da oposição, e isso é bom, isso é a democracia. O sistema eleitoral em algum momento precisa mudar. Não há o segundo turno, o que é péssimo em um sistema com muitos partidos. Isso obriga que você tenha de formar uma coalizão em bloco, apesar de todas as sensíveis diferenças, porque caso contrário não há possibilidade de ganhar. Mas, apesar de tudo, há uma união eleitoral na oposição.

ÉPOCA – Como o senhor analisa a posição do Brasil em relação à Venezuela?
Capriles – Eu esperava mais do Brasil. Como venezuelano que respeita e admira profundamente o Brasil e os brasileiros, esperava mais tanto do presidente Lula quanto da presidente Dilma Rousseff. Sempre tive uma relação de respeito com o Brasil, apesar dos presidentes Lula e Dilma sempre terem sido favoráveis ao governo Chávez e a Maduro. Lamentei muito quando Lula se meteu na campanha chavista para eleger Maduro. Foi uma intromissão – mesmo com a oposição venezuelana tendo sido sempre respeitosa e nunca tendo se metido nos processos políticos internos do Brasil. Mas me decepcionei. Eu esperava muito mais do governo do Brasil, porque o Brasil não é apenas mais um país na América Latina. É o país com maior peso regional. Eu esperava uma postura mais condizente de um país que tem instituições sólidas, que acredita na união da América Latina. Queria que o Brasil tivesse coisas a dizer e coisas a pedir a um governo que não respeita as instituições e alimenta a desunião. Por que o governo brasileiro, mesmo sabendo de todas as irregularidades e os atropelos não democráticos do chavismo, apoia o oficialismo? O silêncio do Brasil dói.

ÉPOCA, RODRIGO TURRER
Missão Ushuaia, Venezuela. 27/10/2015.

Brasil usou Itaipu para ajudar Venezuela a entrar no Mercosul

Em reunião privada em junho de 2011, a presidente Dilma Rousseff disse ao então presidente da Venezuela, Hugo Chávez (1954-2013), que a renegociação do Tratado de Itaipu com o Paraguai seria usada como argumento para persuadir Assunção a aceitar a Venezuela no Mercosul.

A reunião foi registrada em telegrama secreto redigido por um funcionário do Itamaraty. O documento, obtido pela Folha, indica que a renegociação serviu de moeda de troca pelo Brasil para favorecer o governo Chávez.

No mês anterior ao encontro, o Senado brasileiro aprovara um acordo entre Brasil e Paraguai que triplicou o valor pago pelo governo ao país vizinho pelo excedente de energia da hidrelétrica.

Na época, a oposição no Senado disse que passaria o valor pago de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões anuais.
Editoria de arte/Folhapress

O documento diplomático foi entregue pelo Itamaraty ao Ministério Público Federal do Distrito Federal no inquérito civil que apura suposto tráfico de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na relação entre governos estrangeiros e empreiteiras brasileiras.

No encontro com Chávez, Dilma disse, segundo o telegrama, que a adesão da Venezuela ao Mercosul "fortalecerá o bloco". Naquele momento, o Paraguai se opunha à ideia.

Dilma, porém, procurou acalmar Chávez: "Lula está empenhado, junto a interlocutores no Paraguai, na aprovação da adesão da Venezuela pelo Congresso paraguaio. Nós aqui também estamos ajudando. A aprovação do acordo por troca de notas sobre Itaipu, pelo Congresso brasileiro, deverá contribuir para que o Congresso paraguaio se torne mais propenso a examinar favoravelmente a questão da adesão da Venezuela", disse.
Hugo Chávez, Dilma Rousseff, José Mujica e Cristina Kirchner em Brasília, 
em 2012. Foto: Sergio Lima - 31.jul.2012/Folhapress 

'NAVE SERENA'

Em resposta, Chávez disse que "ama" o Brasil. Alegou que não conseguiu adquirir aviões militares fabricados no Brasil por pressão dos EUA, mas com aviões de uso civil "não há dificuldades".

"Quero reiterar a importância da integração regional", disse Chávez. "Lula foi uma tábua de salvação para mim quando fui eleito em 2002. O golpe de abril de 2002 foi um baque grande para meu governo. O apoio regional nos momentos subsequentes foi valioso. O Brasil é uma nave grande e serena; a Venezuela, uma lancha de ataque."

O uso de Itaipu já havia sido levantado pelo Brasil quatro meses antes em um encontro entre Chávez, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e outros membros do governo venezuelano, inclusive o então chanceler Nicolás Maduro, hoje presidente.

O Itamaraty considerou o evento "encontro privado" e o registrou em telegrama secreto. Na reunião, Chávez disse que vinha "trabalhando para acelerar a adesão" do seu país ao Mercosul, mas que não estava "disposto a sofrer pressões indevidas por parte do governo paraguaio".

"Confidenciou" ter indicado a Maduro que, se os entraves do Parlamento paraguaio continuassem, "seria melhor deixar o Mercosul e passar a se concentrar mais em fortalecer as relações bilaterais".

Marco Aurélio Garcia, então, procurou acalmá-lo.

"Com vistas a alcançar clima político mais propício ao Paraguai, o professor Garcia relatou os esforços brasileiros para atender demandas paraguaias relativas a Itaipu", diz o telegrama, assinado pelo embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho.

"O assessor especial da PR [presidente] Rousseff sugeriu que a Venezuela convidasse [o general paraguaio que viveu no Brasil] Lino Oviedo [1943-2013] para visita a Caracas com o propósito de alargar sua base de apoio no Congresso paraguaio."

A Venezuela aderiu ao Mercosul no ano seguinte a essas conversas, em agosto de 2012.

ODEBRECHT

Na reunião, Chávez ainda propôs criar um fundo de financiamento para projetos bilaterais, citando que a Construtora Odebrecht "já aceitou mecanismo de remuneração parcial em petróleo".

Dilma respondeu que a empreiteira poderia ajudar.

"Será importante envolver nesse processo o presidente da Associação Brasileira de Construção Civil. A Odebrecht pode ajudar muito com habitação", afirmou.

Folha de São Paulo
Missão Ushuaia, Venezuela. 27/10/2015.

Brasileiros presos na Venezuela por compra ilegal de gasolina são soltos.


Os três jovens presos na Venezuela há mais de 40 dias foram liberados pela Justiça na tarde destasegunda (26) (Foto: Marinês Luciana/Arquivo pessoal)

Os três jovens brasileiros presos na Venezuela no dia 8 de setembro por compra de gasolina em local não autorizado foram soltos pela Justiça do país vizinho nesta segunda-feira (26), segundo informações de familiares e do Governo de Roraima.

O casal Cássio Gleisson da Silva Almeida, de 24 anos, e Ana Cássia da Silva Oliveira, de 18, além do amigo deles Taysson da Silva Correia, de 22 anos, passaram 48 dias detidos na Venezuela após comprar combustível em uma residência na cidade de Santa Elena de Uairén. Esse tipo de compra é considerado crime ambiental.

Por telefone, a mãe de Ana Cássia, Marinês Luciana, disse à reportagem do G1 na noite desta segunda-feira que deve se encontrar com os jovens até as 22h (horário local). "Estou muito nervosa. Vamos recebê-los na porta da 'cadeia'. Fomos informados agora há pouco que eles foram liberados", informou.

Além de Marinês, viajaram para Venezuela a avó materna de Ana Cássia, a mãe e o pai de Cássio, além do irmão de Taysson. "A previsão é que a gente saia daqui na madrugada, de carro, e provavelmente chegue a Roraima na noite desta terça-feira [27]. Foi muito difícil, mas graças a Deus conseguimos", desabafa, acrescentando que eles estão bem de saúde, embora estejam 'muito magros'.

Governo do Estado diz ter dado apoio a brasileiros
O trio estava em um presídio de Ciudad Bolívar, na Venezuela, e foi liberado no fim da tarde desta segunda-feira. O caso foi acompanhado pela Secretaria Extraordinária de Assuntos Internacionais (Seai) e pelo Itamaraty.

Segundo a secretária de Assuntos Internacionais, Verônica Caro, o governo do estado deu todo o apoio possível aos brasileiros durante o período em que estiveram presos na Venezuela.

“Nós colocamos à disposição um advogado para cuidar do processo e tentar o mais breve possível conseguir a liberação dos brasileiros”, comentou a secretária, explicando que pelas leis venezuelanas, qualquer pessoa presa no país tem que cumprir o prazo mínimo de 45 dias detida e, somente após esse prazo, é possível a realização da primeira audiência.

Mesmo com a liberação dos três jovens, a secretária faz um alerta aos brasileiros que visitam a Venezuela. “Os turistas devem abastecer somente nos postos de combustíveis internacionais autorizados. Além disso, devem ficar sempre atentos sobre os produtos permitidos para compra, buscando evitar qualquer problema com as autoridades venezuelanas, que têm leis diferenciadas das do Brasil”, destaca.

Itamaraty
A reportagem do G1 entrou em contato com o Itamaraty para saber se o órgão já tem informação oficial sobre a liberação dos brasileiros e se teria oferecido auxílio para que os jovens voltem para Roraima, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Entenda o caso
Ana Cássia, Taysson e Cássio foram detidos no dia 8 de setembro em Santa Elena de Uairén, cidade venezuelana que faz fronteira com o Brasil. No momento da prisão, Ana e Cássio estavam com a filha, uma bebê de quatro meses. A neném foi entregue aos familiares em Roraima.

No momento da prisão, os jovens abasteciam o carro deles em uma casa não autorizada a vender combustível, o que é considerado crime ambiental no país. Por causa disso, eles foram detidos e levados a presídios em Ciudad Bolívar, na Venezuela. Por um perídio, eles mantiveram contato com os familiares por meio de telefones de outros detentos.

Fonte: G1
Missão Ushuaia, Venezuela. 27/10/2015.

Promotor venezuelano refugiado: Leopoldo López foi preso com provas falsas. Franklin Nieves conta em vídeo que abandonou país para fugir de pressões do governo.


CARACAS - Fora do país por medo de repressões, o promotor venezuelano Franklin Nieves acusou o governo de Nicolás Maduro de pressioná-lo para prender o líder opositor Leopoldo López com provas falsas. A denúncia foi feita em um vídeo divulgado na noite de sexta-feira por um portal de notícias da oposição. Nele, Nieves assegura que foi um dos funcionários que apresentou a acusação contra López.

Sem informar seu paradeiro, o promotor conta que abandonou o país para fugir das pressões do governo para que justificasse a decisão de uma juíza no processo de apelação do condenado.

“Decidi sair com minha família da Venezuela em virtude da pressão que estava exercendo o Executivo Nacional e meus superiores hierárquicos para que continuasse a defender as provas falsas com as quais se havia condenado o cidadão Leopoldo López. Não conseguia dormir sabendo que estava continuando uma farsa que violava os direitos de López”.

López foi condenado a 13 anos e nove meses de prisão por ter incitado a violência durante uma onda de protestos contra o governo de Nicolás Maduro, em 2014, que deixou mais de 40 mortos. E se organizações de direitos humanos afirmam que López é um preso político, o governo assegura que nas prisões venezuelanas há apenas “políticos presos”.

No Twitter, um dos advogados do opositor, Juan Carlos Gutiérrez, afirmou que a condenação deveria ser revogada, e o réu, libertado.

“Franklin Nieves, promotor do caso, evidencia mais uma vez a ilegalidade da sua condenação, é o resultado de uma fraude processual”, escreveu.

Antonieta Mendoza, mãe de López, também divulgou um vídeo onde afirma que a saída de Nieves do país demonstra que o governo coage os membros do poder judicial.

“O juízo contra López foi a mão do regime querendo eliminar aqueles que o desmascaram”.

Jornais locais e meios oficiais especulavam o motivo que havia levado o promotor a deixar o país, na segunda-feira. Mas, após a confissão, começa a ganhar força a versão de que Nieves fez um acordo com autoridades americanas em troca de proteção. Ele teria levado uma pasta com documentos e provas que confirmam a pressão do governo.

O Globo com agências internacionais
Missão Ushuaia, Venezuela. 24/10/2015.

"MADURO ESCANCARA A DITADURA"


O governo da Venezuela segue firme no rumo da autocracia. No início do mês, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) afirmou que já não se pode considerar o regime vigente na Venezuela nem como uma “democracia precária”. As reiteradas violações do Estado de Direito e das liberdades fundamentais determinam que se considere o regime uma ditadura, declarou a entidade. 

A constatação da grave situação venezuelana é agora reforçada pela resistência do governo em permitir um “trabalho de observação objetivo, imparcial e abrangente” nas próximas eleições parlamentares, conforme denuncia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As autoridades venezuelanas acharam-se no direito de rejeitar o nome proposto pelo Brasil – Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – para presidir a missão da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) constituída para acompanhar as eleições de dezembro. Querem alguém mais alinhado com suas estripulias ditatoriais. 

Ainda que o nome de Jobim tenha sido aprovado pela Presidência da República e pelo Itamaraty, nem a presidente da República Dilma Rousseff nem o chanceler Mauro Vieira denunciaram o evidente abuso de Maduro, que quer escolher até quem preside uma comissão que só tem sentido se for independente. Preferiram o silêncio cúmplice, deixando o TSE sozinho na denúncia de que foi impedido de “acompanhar a auditoria do sistema eletrônico de votação”, bem como de “iniciar a avaliação da observância da equidade na contenda eleitoral, o que, a menos de dois meses das eleições, inviabiliza uma observação adequada”. 

A questão, no entanto, não se resume à recusa do nome de Jobim. O governo venezuelano não concordou em conceder à missão de observadores livre acesso às seções eleitorais. Deseja que o trabalho de fiscalização fique restrito a algumas zonas eleitorais previamente escolhidas pelos homens de Maduro. 

O governo venezuelano quer uma missão da Unasul amordaçada e rejeitou a proposta brasileira de garantir que a missão de observadores pudesse emitir um parecer final sobre as eleições, após a divulgação do resultado das urnas. É ver e dar a bênção – nada de ficar emitindo opinião. É o que convém a uma ditadura.

Nicolás Maduro não quer observadores isentos. Deseja que a missão da Unasul sirva apenas para legitimar sua farsa eleitoral. Ao menos nisso, o presidente venezuelano é explícito. Faz questão que os integrantes da missão da Unasul não sejam tratados como “observadores”. Estarão lá como meros “acompanhantes do processo eleitoral” e, ainda por cima, sem qualquer prerrogativa diplomática. 

Frente a esse tipo de atitude do governo venezuelano, bem reagiu o TSE afirmando que não participará da missão da Unasul às eleições parlamentares naquele país. A proposta do tribunal brasileiro visava simplesmente “verificar se as condições institucionais vigentes no país asseguram equidade na disputa eleitoral”. No entanto, isso é demasiado arriscado para Maduro. 

Senador Alvaro Dias: "O veto da ditadura Venezuelana ao observador brasileiro é o prenuncio da fraude eleitoral"


A situação na Venezuela é grave. Não há imprensa livre. Não existem veículos de comunicação independentes que não tenham sido vítimas da censura do governo. Diversas leis foram criadas para constranger o trabalho jornalístico, ao arrepio do que prevê a Constituição venezuelana, que garante a liberdade de expressão. As empresas de mídia sofrem de asfixia econômica. E os donos dos meios que ousam desafiar o pensamento único são vítimas de processos judiciais viciados. Segundo relatório da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, houve na Venezuela, somente no último semestre, cerca de “300 violações dos direitos à liberdade de expressão, ataques a jornalistas, criminalização da atividade jornalística e limitações do acesso à informação”.

Não há imprensa livre. Não há eleições livres. Continua a haver, no entanto, o imoral apoio do governo brasileiro a tudo isso. Até quando o Palácio do Planalto fingirá que nada vê?

Editorial do jornal Estado.
Missão Ushuaia, Venezuela. 22/10/2015

Senado aprova repúdio à Venezuela por veto a Jobim. TSE abandonou missão de observação após recusas de Caracas


O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim
Aílton de Freitas / Agência O Globo / Arquivo 20/03/2012


BRASÍLIA - O Senado aprovou nesta quarta-feira moção de repúdio ao governo da Venezuela e de solidariedade ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que teve seu nome vetado pela Unasul para chefiar a delegação de observadores das eleições parlamentares da Venezuela, marcadas para o próximo dia 6 de dezembro. A Unasul, por iniciativa venezuelana, sugeriu trocar, Jobim por Jorge Taiana, que é ex-chanceler argentino. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez discurso manifestando apoio a Jobim e ainda à atitude do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Dias Toffoli, em relação à questão. O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), apresentou ontem, na nesma sessão, uma moção de repúdio à Venezuela.

— Quero aproveitar a oportunidade para, em nome dos senadores, apresentar os nossos cumprimentos ao ex-ministro Nelson Jobim, a nossa solidariedade e repudiar, do ponto de vista do Senado Federal, esses obstáculos que a Venezuela coloca, com relação ao acompanhamento de um dos grandes brasileiros, meramente no acompanhamento de eleições na Venezuela. Quero também aproveitar para cumprimentar o presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, pela iniciativa com a qual o Senado Federal concorda totalmente — disse Renan.

O senador Aloysio Nunes Ferreira apresentou a moção, afirmando que ela recebeu o apoio de mais de 30 senadores. O requerimento do tucano pedia a aprovação de "Moção de repúdio ao governo da Venezuela em razão os obstáculos criados pelo Governo venezuelano que levaram à decisão acertada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de não participar da missão da Unasul das eleições parlamentares venezuelanas em dezembro próximo". O texto diz ainda que o "Senado entende que o governo brasileiro não se sente representado pela missão de observação/acompanhamento das eleições legislativas na Venezuela, em nome da Unasul, da qual o Brasil é membro.



 


— Um grupo expressivo de 30 senadores, subscreveu a moção, na linha do repúdio a mais esse ato que configura uma escalada autoritária e um insulto a uma das grandes figuras da política brasileira, do mundo jurídico brasileiro, que é o ministro Nelson Jobim — disse Aloysio. 

A aprovação foi precedida por vários discursos criticando a postura da Venezuela. A senadora Ana Amélia (PP-RS) disse que apresentou na CRE um requerimento para convidar a Unasul a explicar as sucessivas interferências na democracia brasileira, alegando que elas são contrárias aos códigos internacionais de conduta, celebrados no âmbito da ONU. 

— A Unasul tomou partido, recentemente, sobre qual deve ser o rumo político da democracia brasileira na atual crise. É a mesma instituição que vetou, de modo autoritário e arbitrário, a participação do ex-ministro da Justiça e da Defesa, Nelson Jobim, para chefiar os observadores das eleições. Taiana, que é ex-chanceler argentino, é alinhado ideologicamente com o chavismo e as práticas antidemocráticas, para acompanhar as eleições da Venezuela. Esse gesto não é uma afronta, um desrespeito a Jobim, esse gesto e essa atitude são uma afronta ao povo brasileiro, uma afronta ao Congresso brasileiro, uma afronta à Justiça Eleitoral brasileira, um afronta à presidente da República do nosso país — disse Ana Amélia. 

— Realmente não podemos assistir a atitudes como essa de desrespeito ao governo brasileiro, que, na verdade, é uma consequência dos constantes desrespeitos do governo da Venezuela à democracia, uma verdadeira sequência de desrespeitos do governo venezuelano aos tratados e aos acordos do Mercosul — disse Tasso Jereissati.

A moção de repúdio foi aprovada de forma simbólica. Mas se manifestaram contrariamente os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Vanessa Grazziottin (PCdoB-AM) e o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

Após a aprovação da moção da Venezuela, o Senado aprovou moção apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pedindo apoio da Casa "ao pedido de Cuba sobre a necessidade de se pôr fim ao bloqueio econômico e financeiro imposto pelo Governo dos EUA àquele país". A proposta foi aproava sem discussão, no final da sessão. 

Fonte: O Globo 
Missão Ushuaia, Venezuela. 22/10/2015.

Tribunal Superior Eleitoral do Brasil se retira de missão que vai acompanhar eleições na Venezuela.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu se retirar da missão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) que vai acompanhar as eleições parlamentares na Venezuela, marcadas para dezembro. Em nota, o tribunal diz que a decisão foi em função do nome do ex-ministro Nelson Jobim ter sido preterido para a chefiar a delegação brasileira. 

"Governo deve resposta a veto de Nelson Jobim para chefiar observadores em eleições na Venezuela". (Senador Aloysio Nunes, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado)

 

O TSE explicou que Jobim foi escolhido para chefiar a delegação brasileira pelo fato de ser uma autoridade pública "com amplo conhecimento da lide eleitoral e de reconhecida isenção". A escolha, segundo o órgão, foi aprovada pela Presidência da República e submetida pelo Itamaraty à presidência pro tempore da Unasul, atualmente com o Uruguai. “Embora o candidato brasileiro tenha angariado amplo apoio entre os Estados-Membros, foi preterido na escolha final para a chefia da missão por suposto veto das autoridades venezuelanas”. 

Segundo o tribunal, a corte pretendia exercer trabalho de acompanhamento "objetivo, imparcial a abrangente", por meio de regras previstas em acordo da Unasul e o Conselho Eleitoral da Venezuela. Para o TSE, a demora do conselho para se pronunciar sobre uma nova versão do acordo, após o veto, também contribuiu para inviabilizar o processo de observação. 


“A demora do órgão eleitoral venezuelano em pronunciar-se sobre a versão revista do acordo fez com que a missão não pudesse acompanhar a auditoria do sistema eletrônico de votação e tampouco iniciar a avaliação da observância da equidade na contenda eleitoral, o que, a menos de dois meses das eleições, inviabiliza uma observação adequada”, diz a nota. 

A Agência Brasil entrou em contato com a Embaixada da Venezuela e aguarda retorno. 

Editor Aécio Amado - EBC
Missão Ushuaia, Venezuela. 21/10/2015.

Líderes latinos questionam presença da Venezuela em Conselho de Direitos Humanos. Carta assinada por catorze ex-presidentes critica a 'deterioração da situação de direitos humanos na Venezuela' e pede a libertação dos presos políticos.


O presidente venezuelano, Nicolás Maduro(Jorge Silva/Reuters)

Líderes internacionais que fazem parte do Clube de Madri pediram nesta segunda-feira à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que condicione a renovação do mandato da Venezuela no Conselho de Direitos Humanos à libertação de políticos detidos. Através de uma nota, o grupo também vinculou essa renovação às autoridades venezuelanas permitirem a presença de uma missão imparcial de observação eleitoral na próxima eleição legislativa.

Entre os signatários estão ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso (Brasil); Laura Chinchilla (Costa Rica); César Gaviria e Andrés Pastrana (Colômbia); Vicente Fox (México); Osvaldo Hurtado (Equador); Luis Alberto Lacalle e José María Sanguinetti (Uruguai); Ricardo Lagos, Eduardo Frei e Ricardo Piñera (Chile); Tuto Quiroga (Bolívia) e Alejandro Toledo (Peru); e o ex-chefe do governo espanhol Felipe González. Em uma votação que acontecerá dia 28 de outubro, a Venezuela concorrerá com Equador, Panamá e Bahamas por uma das três vagas de representação da América Latina e do Caribe no Conselho de Direitos Humanos. O mandato é de três anos.

Os signatários sublinharam "a deterioração da situação de direitos humanos na Venezuela e sua atitude obstrucionista no Conselho de Direitos Humanos nos últimos três anos" como fatores para que o país não seja mantido no posto. Além disso, apontaram que "a concentração de poder e a falta de independência judicial na Venezuela tornaram possível que o governo intimide, censure e persiga críticos". Os líderes criticam o que consideram arbitrariedade na hora de deter, julgar e condenar dirigentes da oposição e a "fustigação à imprensa, que gera autocensura".


"O fato de a Venezuela violar abertamente suas obrigações jurídicas internacionais de direitos humanos mais elementares é incompatível com sua entrada no Conselho de Direitos Humanos", argumentaram os líderes latino-americanos que assinaram o documento. Por isso pediram a libertação "imediata" de opositores como Leopoldo López, Daniel Ceballos e Antonio Ledezma "e de todas as pessoas detidas por exercer seus direitos de opinião e de manifestação pacífica".

O grupo também pediu que o governo venezuelano aceite a missão de acompanhamento eleitoral da Unasul de todos os especialistas independentes e qualificados, enviados pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pela União Europeia (UE) e por outras organizações internacionais para garantir que as eleições de 6 de dezembro na Venezuela sejam "justas e livres".

(Com agência EFE)
Missão Ushuaia, Venezuela. 19/10/2015.

Prisão de outro político da oposição provoca reações na Venezuela. Ex-candidato presidencial havia fugido após ter sido acusado de corrupção por Chávez


Manuel Roseiras, em outubro de 2009. / R. G. P. (AFP)

A procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz, já o havia advertido: se regressasse à Venezuela, o ex-candidato presidencial oposicionista, ex-governador do Estado de Zulia e ex-prefeito de Maracaibo,Manuel Rosales, seria preso. Dito e feito: na tarde desta quinta-feira, funcionários da polícia política, a Sebin, e do Ministério Público prenderam Rosales quando chegava em um voo procedente da ilha de Aruba ao aeroporto internacional La Chinita, em Maracaibo (a noroeste da Venezuela).

Rosales vivia no exílio desde 2009. Na época foi para o Peru, que lhe concedeu asilo político. A Procuradoria o acusou em março desse ano de atos de corrupção e enriquecimento ilícito durante sua gestão entre 2000 e 2008 como governador do Estado de Zulia, o mais povoado e rico do país, no trecho mais setentrional da fronteira com a Colômbia.

Em 2006, Rosales, líder do partido social-democrata Um Novo Tempo (UNT), se desligou do governo para se apresentar comocandidato oposicionista à Presidência da República contra Hugo Chávez, que então buscava sua primeira reeleição.

Depois da derrota nessas eleições, Rosales começou a ser alvo de acusações de corrupção formuladas por porta-vozes e órgãos de imprensa governistas. Um relatório da Controladoria Geral da República de julho de 2007 o culpou por diversas irregularidades administrativas e sinais de enriquecimento ilícito, decorrentes da análise das declarações de patrimônio pessoal apresentadas por ele entre 2002 e 2004. Em dezembro de 2008, Rosales foi formalmente acusado.


O dirigente oposicionista, que atribuiu as acusações a motivações políticas, seguiu para o exílio. Depois de passar alguns anos no Peru, instalou-se no Panamá, onde possui imóveis.

Seu afastamento afetou a liderança pessoal de Rosales e de seu partido, a UNT, ambos aparentemente condenados a serem irrelevantes no conflito político venezuelano. Por fim, em 8 de outubro ele anunciou, por meio de uma gravação divulgada entre seus seguidores, que se dispunha a voltar à Venezuela no dia 15. “Há muito tempo vejo o meu povo humilhado”, dizia no pronunciamento, acompanhado ao vivo por milhares de partidários concentrados então em Maracaibo, bastião eleitoral de Rosales e cidade em que sua mulher, Eveling Trejo de Rosales, é prefeita.

Rosales se propunha hoje, na chegada, a ir até a Basílica da Virgem de Chiquinquirá —patrona de Zulia e uma das representações marianas mais populares do país –para, em seguida, se encontrar com os militantes e simpatizantes da UNT em uma manifestação pública na avenida 72 de Maracaibo.


No entanto, 15 agentes da polícia o esperavam no aeroporto para prendê-lo. Rosales será transferido para a sede do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) em Caracas para sua apresentação perante o Tribunal 19 de Controle da Área Metropolitana, onde está o processo de seu caso.

De acordo com diversas testemunhas, durante a operação de captura de Rosales os agentes da polícia apreenderam os telefones celulares das pessoas presentes que pudessem ter gravado a prisão com suas câmeras. Também retiveram as equipes dos repórteres da CNN em Espanhol e do canal colombiano NTN24, que estavam no local.

Fonte: El País
Missão Ushuaia, Venezuela. 17/10/2015.

Toma teu ticket e faz silêncio. "Unasul exalta Dilma e se intromete em assuntos do Brasil". ​


O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), cancelaram nesta quarta-feira (14) a reunião que teriam com o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, em "repúdio" às declarações de Samper sobre a possibilidade de impeachment no Brasil.

Em entrevista na quarta, Samper afirmou ao jornal "Valor Econômico" que a Unasul poderia invocar sua cláusula democrática caso Dilma tenha seu mandato cassado sem que esteja diretamente envolvida em crimes. A presidente Dilma Rousseff "pode e deve terminar seu mandato", disse Samper, ex-presidente da Colômbia.

Segundo Aloysio, Samper "veio ao Brasil fazer propaganda da presidente Dilma Rousseff e se intrometer em assuntos políticos internos".

"Aqui no Brasil nós temos democracia e não é possível tachar de golpismo atos legítimos questionando as contas eleitorais ou possível crime de responsabilidade da presidente", disse o senador à Folha. "A Unasul deveria se preocupar é com a democracia onde ela está ameaçada, como no Equador, onde há restrições à imprensa, na Bolívia, onde o presidente tenta se reeleger indefinidamente, ou na Venezuela, onde a situação é grave. Sobre essas situações, a Unasul não dá um pio."

Para a oposição, há uma movimentação de governos estrangeiros alinhados ao PT para rotular de "golpismo" qualquer tentativa de questionamento do mandato de Dilma.

Na terça (13), os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Bolívia, Evo Morales, disseram estar atentos ao que classificaram como "golpe de Estado" contra Dilma Rousseff."Tanto o presidente Evo Morales quanto eu manifestamos nossa preocupação e alarme. Vamos iniciar uma série de consultas porque parece anunciar-se no Brasil, sob uma nova modalidade, um golpe de Estado contra Dilma Rousseff e contra o movimento popular", afirmou Maduro. Em entrevista à Folha na semana passada, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, afirmou: "um governo conservador no Brasil, complacente com atitudes antidemocráticas, seria uma catástrofe para a América Latina."

Samper encontrou-se com Dilma nesta quarta, em Brasília. Os dois discutiram a missão da Unasul de monitoramento das eleições legislativas na Venezuela, que serão realizadas em dezembro, e a situação política no Brasil.

Se a Unasul acionar a cláusula democrática, o Brasil pode ser suspenso do bloco, como ocorreu após o impeachment do presidente Fernando Lugo no Paraguai, em 2012. "Existe uma cláusula democrática que prevê que a Unasul deve intervir para evitar que, de uma maneira brusca, se altere a ordem constitucional", disse Samper ao Valor. Procurada pela Folha, a assessoria da Unasul não retornou até o horário do fechamento desta reportagem. 

Patrícia Campos Mello, Folha de São Paulo
Missão Ushuaia, Venezuela. 16/10/2015.

Espremendo até quando for possível, para custear o silêncio dos cúmplices.

NOTA


Cancelada reunião com o secretário-geral da UNASUL

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Aloysio Nunes, e o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, cancelaram reunião com o secretário-geral da UNASUL, Ernesto Samper, em repúdio às suas declarações feitas durante visita oficial ao Brasil.

Em visita ao Brasil, Samper fez a defesa da permanência da presidente Dilma Rousseff ao ser indagado sobre a situação política do país. "A posição da UNASUL é muito clara: a presidente pode e deve terminar seu mandato", respondeu Samper na ocasião.

O Brasil é uma democracia consolidada e o senhor Samper faria melhor se dedicasse mais atenção à escalada autoritária em outros países da região, notadamente a Venezuela, sobre a qual, até agora, tem mantido silêncio.

As instituições brasileiras são robustas o suficiente para lidar, dentro dos princípios do Estado Democrático de Direito, com a profunda crise econômica e política que o País atravessa. 

Nossas instituições cumprem as missões que lhes são atribuídas pela Constituição, inclusive a de deliberar sobre pedidos de impeachment da presidente.


Senador Aloysio Nunes, Presidente da Comissão de Relações 
Exteriores e Defesa Nacional do Senado do Brasil.

Arte: Untal_Ro
Fonte: CRE Senado.
Missão Ushuaia, Venezuela. 15/10/2015.

Venezuela lança game de super-herói que pode vencer Homem-Aranha.


Uma equipe de programadores da Venezuela criou o SuperBolívar -um personagem de videogame inspirado no herói Simón Bolívar-, que voa pelo país divulgando os símbolos pátrios e defendendo a independência.

"Queremos apresentar o SuperBolívar, um super-herói que vai vencer o Homem-Aranha" disse Ray Acedo, um dos criadores do game, do Instituto Nacional de Capacitação e Educação Socialista (Inces). "Ele vai percorrendo as oito províncias para libertar a pátria."

O anúncio foi feito no programa do presidente Nicolás Maduro, transmitido todas as terças pela televisão pública.

Arte:Untal_Ro

Acedo explicou que o videogame foi desenvolvido como software livre para funcionar nas "canaimitas", como são chamados os computadores distribuídos nas escolas pelos programas sociais do governo.

Maduro disse que se trata de uma proposta "muito positiva", porque permite que as crianças "possam se aproximar de um herói de carne e osso".

Os criadores apresentam "SuperBolívar" como um game educativo com "conteúdo patriota" para manter viva a figura de personagens históricos.

FRANCE-PRESSE, VTV VENEZUELA.
Missão Ushuaia, Venezuela. 14/10/2015.

Brasil e Venezuela derrubam média de crescimento da América Latina

Em boletim divulgado nesta terça-feira (6), o Fundo Monetário Internacional (FMI) desenhou um quadro bastante desanimador para a América Latina, puxado pelas recessões brasileira e venezuelana. Os economistas do órgão projetam um recuo de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) da região em 2015. A economia do Brasil deverá recuar 3%, enquanto a da Venezuela terá tombo de até 10%. 

De acordo com o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, muitas das nações latinoamericanas são afetadas por "choques comuns", em especial a queda significativa nos preços das commodities. "A queda geral dos preços de commodities afeta a todos, mas países específicos têm as suas próprias histórias", ressaltou o representante durante a apresentação do relatório no Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês) em Lima, no Peru.


A Venezuela é um dos países com forte dependência da exportação de petróleo. Em 2014, o país teve um recuo de 4% em seu PIB. Para este ano, contração deverá ser de 10% e, em 2017, de 6%. O vice-diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, Gian Maria Milesi-Ferretti, lembrou que a nação já enfrentava severos desequilíbrios macroeconômicos, mas que a desvalorização do preço do barril teve impactos imediatos na saúde de sua economia, uma vez que o setor tem grande peso nas receitas do governo venezuelano. Segundo alerta o relatório do fundo, o mau desempenho da economia da Venezuela poderá afetar países do Caribe no âmbito do programa Petrocaribe. 

O economista-chefe do FMI ainda ressaltou que outros países da América Latina têm um cenário econômico positivo, mesmo que seu crescimento venha desacelerando com o passar dos anos. São eles Colômbia, Chile e Peru, que têm crescimentos projetados para 2015 de 2,5%, 2,3% e 2,4%, respectivamente. No caso da Argentina, o Fundo espera um desempenho positivo de 0,4% em 2015 e uma retração de 0,7% em 2016.

Fonte: Jornal do Brasil
Missão Ushuaia, Venezuela. 13/10/2015.

Venezuela passa a ser a sétima economia da região, depois do Peru. Dependência do petróleo e falta de alternativas produtivas afundam Caracas.

A diretora do FMI, Christine Lagarde / MARIANA BAZO (REUTERS)

A América Latina saiu-se mal da queda do preço das matérias-primas, mas seu impacto é desigual. Se a América Central se beneficia do barateamento do petróleo, o Brasil acumula problemas internos – de demanda, mas sobretudo políticos – para entrar em uma preocupante recessão. Mas nada a ver com a derrocada da economia venezuelana: segundo o FMI, a crise profunda a encolheu a ponto de situá-la como sétima economia da região em 2015, superada pelo Peru e com metade do PIB da Colômbia.

Apesar de entrar em recessão, – com uma queda anual estimada em 3%– , e dos efeitos da abrupta depreciação do real no último ano, o Brasil continua sendo, de longe, a maior economia latino-americana. No último relatório de previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), que nesta semana celebra sua assembleia anual em Lima, estima-se que seu PIB chegará a 1,8 trilhão de dólares em 2015, longe dos 2,6 trilhões que alcançou em 2011, quando a combinação era oposta: anos de crescimento real e nominal (inflado pela ascensão de preços) e uma divisa apreciada em relação ao dólar.

O pódio das maiores economias da América Latina, medidas pelo PIB em dólares, também não varia, com o México (1,16 trilhão) ancorado na segunda posição e aArgentina (580 bilhões de dólares) na terceira, como ocorreu nos últimos 25 anos, salvo nos violentos episódios de colapso financeiro, como o sofrido pela Argentina no início da década passada, com forte desvalorização da moeda, que encolhe o tamanho da economia na comparação internacional em dólares.


As maiores mudanças nos equilíbrios econômicos da região têm a ver com a pujança da Aliança do Pacífico(integrada por Chile, Colômbia, Peru e México) e o mergulho da Venezuela. “Embora agora seja difícil de ver por causa do preço das matérias-primas, Chile, México, Colômbia e Peru se beneficiam das reformas dos últimos anos e de políticas macroeconômicas estáveis”, disse a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.

Os representantes do Fundo não deixaram de salientar nos últimos dias, em cada ocasião que tiveram, que veem com bons olhos a política econômica desenvolvida nesses países, alguns com sua assistência técnica (Colômbia e México). A estatística corrobora sua ascensão: apesar do revés da queda do petróleo, muito acentuada este ano, a economia colombiana se mantém como a quarta da região, e Chile se consolida no quinto lugar.

A novidade é o Peru (com um PIB de 179,9 bilhões de dólares), que supera pela primeira vez, e com folga, a economia venezuelana, cujo valor em dólares este ano fica em 131,8 bilhões, quase um terço do que tinha em 2012, e apenas metade do que registra a vizinha Colômbia. As sucessivas desvalorizações (encobertas e oficiais) do bolívar compensam de forma ampla o vertiginoso rebote da inflação, que quase triplicou os preços este ano. Em 15 anos, a Venezuela passou de quarta economia da região para sétima, algo que está muito relacionado à dependência do preço do petróleo e à falta de alternativas produtivas.

A Colômbia se mantém como quarta economia da região, e o Chile se consolida no quinto lugar.


Os organismos internacionais também incorporam a medição em paridade de poder de compra, uma estimativa com a que tentam igualar os diferentes níveis de preços em cada país para poder comparar melhor a atividade econômica, incluído o valor de bens e serviços que não participam do comércio internacional. Com esse sistema, Venezuela ainda é a quinta economia regional, depois da Colômbia. Mas os especialistas do Fundo preveem que se a crise não for resolvida logo, Chile e Peru vão superá-la também nesse tipo de cálculo em apenas três anos.

A revisão em baixa no prognóstico econômico para toda a América Latina faz a Espanha se manter como a maior economia hispânica, diferentemente do que previa o próprio Fundo em abril, quando situava nessa posição o México – cujo valor em dólares sente a depreciação do peso – no fim do ano. De fato, a recuperação da economia espanhola vem combinada com os problemas de outros exportadores de matérias-primas, o que a coloca em 12º lugar na classificação mundial, à frente da Rússia e da Austrália em 2017.

Estados Unidos, China e Japão continuam sendo as maiores economias do mundo. Uma maneira de aproximar, em média, a riqueza dos cidadãos de um país é o PIB per capita. Uma medição que situa no topo da América Latina países pequenos (Bahamas e Trinidad e Tobago). Entre os grandes países, Chile, Argentina e Uruguai são os melhores colocados. O Haiti avança, mas continua sendo o mais pobre, e de novo a Venezuela é o que registra a maior queda.

Fonte: El País
Missão Ushuaia, Venezuela. 10/10/2015.

Sem provas, Maduro acusa oposição de ataque contra estação elétrica.

'Temos uma direita enfraquecida que não está fazendo campanha eleitoral, sua única campanha é a violência, o terrorismo', disse o presidente venezuelano em um discurso

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou na noite desta quarta-feira - sem apresentar nenhuma prova - que opositores de seu governo atacaram uma estação elétrica no Estado de Táchira como parte de um plano "terrorista" com fins eleitorais. "Eu alertei há uma semana, temos uma direita enfraquecida que não está fazendo campanha eleitoral, sua única campanha é a violência, o terrorismo, sua campanha é invisível, é causar prejuízo ao povo", disse Maduro em um pronunciamento por rádio e televisão após relatar o ataque.

O presidente disse que, na noite de ontem, a subestação elétrica de Vega de Aza, no município de Torbes, explodiu devido a um ataque executado por "elementos da direita", que ocasionaram a perda total dos equipamentos. Maduro sustenta a tese que o suposto ataque é parte de um plano de setores que se opõem a seu governo e que pretendem sabotar o serviço de eletricidade para que o povo "traia" a Revolução Bolivariana nas próximas eleições parlamentares.


O prejuízo, disse Maduro, ocasionou perda total e afetou 50% da energia fornecida ao estado de Táchira, causando um apagão em nove municípios. A recuperação e substituição completa dos transformadores levará dez dias, segundo o chefe de Estado venezuelano. O ministro de Energia, o general Luis Motta Domínguez, informou hoje que tudo indica que o ataque aconteceu na terça-feira às 20h43 locais (22h13 de Brasília) e foi produto de uma "sabotagem".

O ministro relatou que foram detidas duas pessoas que estão sendo submetidas a interrogatórios. Com isso, as autoridades esperam ter o responsável atrás das grades nas próximas 48 horas. O Ministério Público venezuelano designou um promotor para investigar a explosão "a fim de determinar se existem responsabilidades criminais derivadas deste fato", segundo um comunicado.

O governo venezuelano culpou em várias oportunidades a oposição do país por supostos atentados contra estações elétricas e petrolíferas, e iniciou investigações, mas sem que, até agora, fossem apresentados provas, resultados de investigações e responsáveis.

EFE
Missão Ushuaia, Venezuela. 08/10/2015.