"A Democracia e o fortalecimento do Estado de Direito são pilares fundamentais da integração regional".

Venezuela passa a ser a sétima economia da região, depois do Peru. Dependência do petróleo e falta de alternativas produtivas afundam Caracas.

A diretora do FMI, Christine Lagarde / MARIANA BAZO (REUTERS)

A América Latina saiu-se mal da queda do preço das matérias-primas, mas seu impacto é desigual. Se a América Central se beneficia do barateamento do petróleo, o Brasil acumula problemas internos – de demanda, mas sobretudo políticos – para entrar em uma preocupante recessão. Mas nada a ver com a derrocada da economia venezuelana: segundo o FMI, a crise profunda a encolheu a ponto de situá-la como sétima economia da região em 2015, superada pelo Peru e com metade do PIB da Colômbia.

Apesar de entrar em recessão, – com uma queda anual estimada em 3%– , e dos efeitos da abrupta depreciação do real no último ano, o Brasil continua sendo, de longe, a maior economia latino-americana. No último relatório de previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), que nesta semana celebra sua assembleia anual em Lima, estima-se que seu PIB chegará a 1,8 trilhão de dólares em 2015, longe dos 2,6 trilhões que alcançou em 2011, quando a combinação era oposta: anos de crescimento real e nominal (inflado pela ascensão de preços) e uma divisa apreciada em relação ao dólar.

O pódio das maiores economias da América Latina, medidas pelo PIB em dólares, também não varia, com o México (1,16 trilhão) ancorado na segunda posição e aArgentina (580 bilhões de dólares) na terceira, como ocorreu nos últimos 25 anos, salvo nos violentos episódios de colapso financeiro, como o sofrido pela Argentina no início da década passada, com forte desvalorização da moeda, que encolhe o tamanho da economia na comparação internacional em dólares.


As maiores mudanças nos equilíbrios econômicos da região têm a ver com a pujança da Aliança do Pacífico(integrada por Chile, Colômbia, Peru e México) e o mergulho da Venezuela. “Embora agora seja difícil de ver por causa do preço das matérias-primas, Chile, México, Colômbia e Peru se beneficiam das reformas dos últimos anos e de políticas macroeconômicas estáveis”, disse a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.

Os representantes do Fundo não deixaram de salientar nos últimos dias, em cada ocasião que tiveram, que veem com bons olhos a política econômica desenvolvida nesses países, alguns com sua assistência técnica (Colômbia e México). A estatística corrobora sua ascensão: apesar do revés da queda do petróleo, muito acentuada este ano, a economia colombiana se mantém como a quarta da região, e Chile se consolida no quinto lugar.

A novidade é o Peru (com um PIB de 179,9 bilhões de dólares), que supera pela primeira vez, e com folga, a economia venezuelana, cujo valor em dólares este ano fica em 131,8 bilhões, quase um terço do que tinha em 2012, e apenas metade do que registra a vizinha Colômbia. As sucessivas desvalorizações (encobertas e oficiais) do bolívar compensam de forma ampla o vertiginoso rebote da inflação, que quase triplicou os preços este ano. Em 15 anos, a Venezuela passou de quarta economia da região para sétima, algo que está muito relacionado à dependência do preço do petróleo e à falta de alternativas produtivas.

A Colômbia se mantém como quarta economia da região, e o Chile se consolida no quinto lugar.


Os organismos internacionais também incorporam a medição em paridade de poder de compra, uma estimativa com a que tentam igualar os diferentes níveis de preços em cada país para poder comparar melhor a atividade econômica, incluído o valor de bens e serviços que não participam do comércio internacional. Com esse sistema, Venezuela ainda é a quinta economia regional, depois da Colômbia. Mas os especialistas do Fundo preveem que se a crise não for resolvida logo, Chile e Peru vão superá-la também nesse tipo de cálculo em apenas três anos.

A revisão em baixa no prognóstico econômico para toda a América Latina faz a Espanha se manter como a maior economia hispânica, diferentemente do que previa o próprio Fundo em abril, quando situava nessa posição o México – cujo valor em dólares sente a depreciação do peso – no fim do ano. De fato, a recuperação da economia espanhola vem combinada com os problemas de outros exportadores de matérias-primas, o que a coloca em 12º lugar na classificação mundial, à frente da Rússia e da Austrália em 2017.

Estados Unidos, China e Japão continuam sendo as maiores economias do mundo. Uma maneira de aproximar, em média, a riqueza dos cidadãos de um país é o PIB per capita. Uma medição que situa no topo da América Latina países pequenos (Bahamas e Trinidad e Tobago). Entre os grandes países, Chile, Argentina e Uruguai são os melhores colocados. O Haiti avança, mas continua sendo o mais pobre, e de novo a Venezuela é o que registra a maior queda.

Fonte: El País
Missão Ushuaia, Venezuela. 10/10/2015.