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Venezuela: de olho nas eleições, oposição faz protesto contra crise econômica.

Manifestantes carregam um caixão com a bandeira da Venezuela
 CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

CARACAS - A oposição venezuelana promoveu, neste sábado, uma manifestação pacífica na área a leste de Caracas, entoando gritos de ordem contra a fome e a violência, numa tentativa de estimular seu eleitorado, antes das eleições parlamentares, que ocorrem em dezembro e podem significar uma mudança política no país.

Com placas em que se podia ler “Na Venezuela não tem nada”, além de bandeiras do país e de partidos, centenas de manifestantes se concentraram em um uma rua do distrito de Chacaíto, a leste da capital. Os protestos marcam um modesto início das ações de rua da oposição no país, depois de esta ter eleito 167 candidatos nas votações para o legislativo.

Os opositores haviam inicialmente convocado marchas em vários pontos de Caracas, mas, no fim das contas, só foi realizada a manifestação a leste da capital.

O protesto oposicionista ocorreu em meio à tensão gerada por alguns casos de saques a estabelecimentos comerciais e a um prédio público ocorridos nos últimos dias em algumas cidades. Os crimes haviam criado expectativas em torno dos protestos deste sábado.

— O inimigo do governo não é a oposição. O inimigo do governo é o Pentágono, o inimigo do governo é a realidade — disse Jesús Torrealba, secretário executivo da coalização oposicionista, defendendo que a crise é consequência do “desmoronamento do governo”.

Em seu discurso na manifestação, Torrealba convocou a oposição a preparar-se para as eleições de dezembro.

— Temos um país de medo. Temos medo de sair à rua. Temos medo de sair para buscar comida. A insegurança está nos matando — afirmou Julio Blanco, um advogado de 48 anos, em apoio ao protesto.

Enquanto balançava uma bandeira da Venezuela, Amalia Mendoza, uma desempregada de 60 anos, afirmou estar disposta a lutar pacificamente nas ruas para “despertar os indiferentes” e para conquistar a mudança política nas eleições parlamentares.

Analistas apontam que o principal desafio a ser enfrentado pela oposição é conseguir mobilizar uma população assolada por uma grave crise econômica — que forçou os venezuelanos a restringir seus orçamentos, diante de uma inflação desenfreada, e a enfrentar filas de várias horas para tentar comprar comida e remédios.

Apesar de serem vistos como os favoritos para vencer as eleições legislativas, os oposicionistas venezuelanos não conseguiram atrair grande concentração de pessoas nas manifestações realizadas nos últimos meses.

Luis Vicente León, presidente da Datanálisis, um instituto de pesquisas do país, acha que o número de pessoas nos protestos não pode ser usado como um indicador. Para ele, o baixo quórum está associado ao “medo” e à “frustração”, depois da violência que tomou os protestos contra o governo no ano passado. Em 2014, os protestos deixaram um saldo de 43 mortos e centenas de presos e feridos.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tem afirmado que a crise é fruto de uma “guerra econômica” promovida por setores empresariais e a oposição, que desejariam prejudicar o seu governo. O governo afirma que os recentes saques fazem parte de um plano desestabilizador.

Empresários, analistas e oposição têm afirmado que a crise é consequência do esgotamento do modelo de controle de preços e taxas de câmbio, em vigor ha 12 anos no país. Eles propuseram ao governo mudar a política econômica, a fim de superar a crise. Esses grupos preveem uma piora na crise, diante da queda do preço do petróleo, responsável por 96% das exportações da Venezuela.

Fontes: O Globo e agências internacionais
Missão Ushuaia, Venezuela. 10/08/15